O Louco

O Louco

Sabem como fiquei louco?

Há muito tempo, muito antes de terem nascido os deuses, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas.

As sete máscaras que tinha fabricado meticulosamente tinham desaparecido. Se nenhuma máscara, saí a correr para a rua a gritar: Ladrões! Malditos ladrões!

Todos se riram de mim, mas alguns fugiram e fecharam-se em casa com medo.

Quando cheguei à praça principal uma criança, que estava sobre o telhado de uma casa gritou: “Olhem, é um louco!”

Voltei a cabeça para a ver e o sol encontrou pela primeira vez o meu rosto nu. O sol iluminou ao mesmo tempo o meu rosto e a minha alma.

A partir desse dia nunca mais usei máscara, e agradeço todos os dias aos ladrões que me a roubaram.

Agora que já sabem como me tornei louco posso confessar-lhes que encontrei muita liberdade e segurança na minha loucura. A liberdade da solidão e a segurança de nunca ser compreendido (aqueles que nos compreendem fazem de nós escravos).

No entanto, sei que não posso orgulhar-me demasiado da minha segurança, pois nem o ladrão encarcerado está livre de encontrar outro ladrão.

Este é o texto que abre uma das muitas compilações de texto da autoria de Khalil Gibran, esta com o mesmo titulo do conto com que é iniciada.

O autor que nasceu a 6 de dezembro de 1883 e que ultrapassou em alguns meses a idade de 47 anos, ficará para sempre na memória daqueles que procuram encontrar outras formas de expressar as suas crenças e a sua religiosidade.